Marajá

 
Profissional diverso da construção civil e morador da rua Irmã Dulce há mais de 12 anos, Ailton Carmo de Moraes, 63 anos, é o décimo quinto de uma família de 19 filhos. Viúvo, avô e pai de cinco dos seis filhos que colocou neste mundo, Marajá perdeu uma deles assassinada junto com o marido, deixando o filho do casal, seu neto Miguel, sob os seus cuidados. A realidade vivida por Marajá, comum a outras famílias que perdem cotidianamente seus parentes para a violência nas grandes periferias, não tira o seu sorriso. Grande sábio da vida, para nós, ele foi o responsável profissional por fortalecer, rebocar, colocar água, iluminar e cobrir o que hoje é a Pinacoteca do Beiru. Anderson o conheceu em 2016, quando pintava ali alguns dos trabalhos que levaria para sua exposição individual na França, cujas obras eram baseadas em imagens de pessoas que o artista captou em sua ida à Luanda, na Angola. Trabalhando no Beiru, logo nos primeiros momentos, estabeleceu alguns paralelos e pontes entre Brasil e Angola a partir da beleza das pessoas desses lugares, vislumbrando as primeiras possibilidades de registros de alguns moradores do bairro como inspiração para futuras obras de arte. Sentia uma espécie de espelhamento das pessoas que viu em Luanda, como se ainda estivesse lá. A filha de Marajá era uma delas, pois tinha uma beleza surpreendente a qual Anderson gostaria de eternizar numa obra de arte. Marajá foi um dos primeiros moradores a entrar em seu ateliê, se aproximar e ficar. De lá para cá, já foram inúmeros cafés, muitas conversas e longos períodos de trabalho em sua companhia. Para Anderson, ele Marajá personifica a sapiência do Homem Negro. Aquele que construiu o verdadeiro Brasil, encontrando os melhores meios, os mais dinâmicos processos, fruto de um conhecimento sobre seu valor e seu lugar no mundo frente às adversidades e obstáculos dos caminhos. Marajá é leve, engraçado, afetuoso, competente e sempre tem algo a ensinar. É um verdadeiro Mestre, não só de Obras, mas da própria vida.